Marcelo Ádams

Marcelo Ádams

sábado, 10 de janeiro de 2009

Primeiros passos


Sempre li muito, desde pequeno. Minha mãe gosta de contar que aprendi a ler e escrever sozinho, aos quatro anos. Sozinho não é bem o termo, mas sem dúvida a vontade e o esforço foram todos meus. Dentro da bruma da memória em que estão os primeiros anos da minha vida, lembro que adorava ler gibis, da Disney e da Turma da Mônica, especialmente. Mas também havia o gibi do Popeye, da Luluzinha e do Bolinha, e os que eu menos gostava, de super heróis, que achava incompreensíveis na maioria da vezes, como os da Marvel. Alguns anos depois, me encantariam os gibis de horror, com histórias de monstros, criaturas estranhas e todas as escabrosidades imagináveis. Um desses gibis chamava-se Cripta. Lembro que eu olhava as "figuras" dos gibis e perguntava, para os mais velhos, que som tinham as letras. Foi assim que, um belo dia, surpreendi minha família já sabendo juntar as letras e formar palavras, e com uns garranchos que significam meu nome: Marcelo.


A partir daí, nunca mais deixei de ler, muito. Nem mesmo na fase da adolescência, quando nos tornamos arredios e pensamos mais em festas do que qualquer outra coisa. Desde cedo, também, comecei a escrever historinhas, pequenos contos, inspirados nos filmes que eu assistia no Madrugadão (que depois seria sucedido pelo Corujão da Globo, que está aí até hoje). Apesar de estudar a vida toda no turno da manhã, não abria mão de assistir os filmes da Globo, que passavam diariamente, cada dia com um nome diferente de sessão.


Por exemplo, a segunda-feira era o dia do Classe A, uma sessão de filmes legendados. Às terças, era a vez do Festival de Sucessos, tinha a Quinta Espetacular e assim por diante. Naquela época eram exibidos muitos clássicos em preto e branco, verdadeiras relíquias dos anos 1930, 40 e 50, com aquelas dublagens deliciosas, anunciadas por uma voz que caprichava no som dos SS e RR. Algo como "A Screen Gems (?) apresenta...", ou "Dublado nos estúdios da Dublasom, Guanabara". Foi assim que comecei também a minha paixão pelo cinema e pela necessidade de contar histórias. Aqueles filmes antigos contavam histórias interessantes, e eu também queria fazer aquilo.


Meu interesse consciente pelo teatro surgiu vários anos depois do amor pelo cinema. Achei que seria mais fácil, e mais próximo de mim, contar histórias com o teatro que, como já dizia Grotowski, nada mais é que o encontro entre um espectador e um ator (ou perfomer, conforme a evolução do teórico polonês).


Posso então dizer que foi o cinema que me levou para o teatro. Hoje, já tendo feito alguns filmes e alguma teledramaturgia, posso afirmar que nada se compara ao teatro. É o teatro que me deixa mais à vontade, como artista. É o teatro que domino como linguagem, porque depende, basicamente, de mim, apesar de ser uma arte de grupo. Mas na hora do "vamos ver", o ator está só, no palco, e tem que resolver tudo. O cinema é tão cheio de parafernálias e ações paralelas. Gosto das coisas que fiz, é claro. Mas tenho a sensação de que não estou totalmente à vontade, como no palco. Alguém disse, acho que Paulo Autran, que o teatro é a arte do ator, o cinema é a arte do diretor e a televisão a arte do anunciante. Concordo totalmente. As exceções só confirmam a regra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário