Marcelo Ádams

Marcelo Ádams

quinta-feira, 10 de março de 2011

Ifigênia em Áulis se preparando para zarpar

A imagem acima é a reprodução da tela a óleo Iphigenia in Aulis (1817) do pintor francês Nicolas-André Monsiau (1754-1837). Vê-se o chefe das tropas gregas, Agamenon, próximo de Clitemnestra e de Ifigênia.
Após alguns encontros onde discutimos aspectos do mito que deu origem à tragédia de Eurípides, começaremos hoje a dar forma ao espetáculo, com o estágio prático dos ensaios.
Estreado em 405 a.C., após a morte do autor, existem pesquisas que apontam a interferência de um sobrinho de Eurípides no texto, que havia ficado inacabado. Apresentada no festival ateniense, Ifigênia em Áulis conquistou o primeiro lugar.
É minha segunda incursão, como ator, no universo da tragédia grega, que tanto me apaixona. Na primeira vez, em 2008, encarnei Édipo, na montagem dirigida por Luciano Alabarse. Desta vez o papel que me coube é o do próprio Agamenon, que à espera de ventos favoráveis que levem os navios repletos de guerreiros gregos para Troia, recebe da deusa Ártemis o funesto vaticínio: as naus argivas só zarparão mediante o sacrifício da filha primogênita de Agamenon. A dúvida entre a razão do Estado e a razão pessoal permeia este drama quase psicológico, encarnado pelo atormentado Agamenon. Com esta tragédia, Eurípides (480-406 a.C.) deu prosseguimento à revolução que vinha instalando no gênero: foi, dos três maiores tragediógrafos gregos, aquele que criou a ponte mais firme entre o drama antigo e o moderno, humanizando, ineditamente, suas personagens.
No elenco do espetáculo que estreará dia 5 de maio no Theatro São Pedro, sob direção de Luciano Alabarse, estão Fernanda Petit (Ifigênia), Vika Schabbach (Clitemnestra), Fabrizio Gorziza (Aquiles), mais Mauro Soares, Ida Celina, Carlos Cunha Filho, Lurdes Eloy, Luciana Éboli, Thales de Oliveira, Luísa Herter, Eduardo Steinmetz, Rosângela Batistella, Marcelo Crawshaw...são mais de vinte atores, e só deixo de mencionar a todos para não ter cãibra nos dedos...
Uma curiosidade é que, na realidade, já encarnei Agamenon: no ano passado, na montagem de Solos trágicos, um espetáculo irresistivelmente belo dirigido pelo Roberto Oliveira, eu interpretava fragmentos de Agamenon e de Macbeth, de Shakespeare. Não se tratava, na peça do Roberto, da encenação de Ifigênia em Áulis completa, como desta vez. Mas foi possível dar um bom mergulho na trágica divisão de Agamenon, que agora completo.

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