Marcelo Ádams

Marcelo Ádams

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Chéri

O diretor de cinema inglês Stephen Frears sempre foi um provocador, e entre seus filmes encontram-se algumas das produções mais interessantes das últimas décadas. Só para citar os meus preferidos: Minha adorável lavanderia (My beautiful laundrette, 1985), Ligações perigosas (Dangerous liaisons, 1988), Os imorais (The grifters, 1989), Herói por acidente (Hero, 1992), O segredo de Mary Reilly (Mary Reilly, 1996) e A rainha (The queen, 2006). Sua mais nova direção, Chéri (2009), que tem como protagonista a linda Michelle Pfeiffer, contando também com Kathy Bates no elenco, é a adaptação de dois romances da escritora francesa Colette (1873-1954), mais conhecida por ter escrito o livro Gigi, que daria origem ao musical de mesmo nome, dirigido por Vincente Minelli em 1958, e vencedor de 9 Oscar, inclusive Melhor filme.
A história do filme Chéri é a de uma cortesã parisiense na casa dos quarenta anos, Lea de Lonval, no início do século XX, interpretada por Michelle Pfeiffer, que mantém seu elevado estilo de vida através de amantes que a presenteiam com ricos agrados, mas também por seu tino para os negócios (Lea investe em petróleo, em uma época onde isso era absolutamente raro - para mulheres). Incumbida de apacentar a tormentosa vida do jovem Chéri, de 19 anos, que entrega-se a uma existência libidinosa e desregrada, pela mãe (Kathy Bates), uma ex-cortesã, Lea hospeda o jovem em uma residência no interior francês, junto de si, tornando-se, pelos próximos seis anos, amante do belo rapaz.
O conflito do filme surge quando, após esse período, a mãe do rapaz decide casá-lo com uma moça de dezoito anos, contra sua vontade. Chéri submete-se ao casamento, sob a aprovação de Lea, que, no entanto, após ver o ex-amante casado, descobre, surpresa, que apaixonara-se por ele, e passa a sofrer terrivelmente de amor.
A grande diferença de idade entre Lea e Chéri é uma das questões que Stephen Frears discute, com muita elegância, mostrando em alguns momentos a vazia frivolidade que marcava a vida das personagens, envolvidas em festas, recepções e noitadas no Maxim's, a mais notória casa noturna da época. (Nota: A opereta A viúva alegre, escrita pelo austríaco Franz Lehár em 1905, da qual participei de uma montagem, em 2004, na PUCRS, tinha como um de seus principais cenários justamente o Maxim's). O filme aborda esse amor, que depois mostra-se recíproco, para, na conclusão da história, tornar-se amargo.
Quem assistiu à obra-prima Ligações perigosas, que Frears dirigiu há 22 anos, certamente fará associações entre os dois filmes, que guardam algumas semelhanças: a cidade em que são ambientados (Paris); a profissão da protagonista (está certo que a Marquesa Merteuil, interpretada por Glenn Close, não era exatamente uma cortesã, mas uma aristocrata; porém, mude-se a classe social de aristocracia para burguesia e a função será a mesma); a busca pelo amor e a belíssima cena final, que é praticamente refilmada por Frears: se na produção de 1988 víamos Merteuil em frente a um espelho, titrando a maquiagem, enquanto a dor tomava conta de sua face, em Chéri vemos Lea em frente a um espelho também, observando o tempo que passou por ela, a idade que começa a lhe pesar.
Apesar do novo filme não ser o melhor de sua prolífica carreira, há vários pontos que podem ser identificados que remetem à sua melhor filmografia. Destaque para a linda direção de arte, e os luxuosos figurinos.

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