Marcelo Ádams

Marcelo Ádams

domingo, 17 de janeiro de 2010

Em defesa do texto


O crítico de teatro inglês Michael Billington, que trabalha no jornal The Guardian desde 1971 e leciona na University of Pensylvania e no King's College London, escreveu o artigo Um mapa da dramaturgia contemporânea: uma perspectiva britânica, que pode ser encontrado no volume Próximo Ato: questões da teatralidade contemporânea (Organização Fátima Saadi - São Paulo: Itaú Cultural, 2008). Em seu texto, Billington traça um panorama do teatro inglês nas últimas cinco décadas, e constata que em seu país o teatro dito "de texto" não deixou de ser a principal forma de expressão das artes cênicas de lá, com o constante aparecimento de novos autores que contribuem com a riqueza daquele teatro.
Billington defende que o teatro visual ou físico, apenas, não tem a mesma força que o teatro que faz uso do texto dramático. As ideias são muito mais ricas quando a palavra é usada a favor da cena. A moda que assolou o planeta, durante os anos 1960 a 1980, especialmente, onde a palavra era quase que execrada nos palcos, não basta.
Concordo plenamente com o inglês, e acho de fundamental importância a palavra, o texto na boca dos atores/agentes das ideias. Ao assistir Stand-up drama, que permanece em cartaz apenas neste final de semana, é possível constatar na prática o quão rica pode ser a experiência de ouvir um ator se expressar com um mínimo de recursos, apenas nos contando uma história envolvente. E isso não é novidade, pois está na raiz do nascimento do teatro, quando os aedos tinham como função entreter os convivas dos banquetes, na Grécia Antiga, com a narração de trechos das epopeias homéricas Ilíada e Odisseia. Havia apenas a palavra e os recursos corporais dos narradores.
Nunca cansamos de ouvir boas histórias, temos um prazer ancestral no ato de nos reunirmos para troca de experiências e relatos (não fosse assim, por que os barzinhos estariam cheios, com gente trocando ideias e enchendo a cara, enquanto nosso teatros estão vazios?). O caso é que a maioria das pessoas prefere o descompromisso de jogar conversa fora inconsequentemente, e não percebe, ou não dá importância, à fascinante viagem que o teatro é capaz de proporcionar.

Um comentário:

  1. Tomara que Stand-up drama retorne em outras temporadas. Foi encantador/emocionante/envolvente ouvir aquelas histórias tão bem contadas pelo ótimo elenco.

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