Na foto acima, uma imagem da Vila Chocolatão. Hoje à tarde, dia 21 de junho, fiz algo completamente fora da minha rotina. Conheci a Vila Chocolatão, próxima ao Colégio Parobé. Desde 2002 tenho escrito textos teatrais para a oficina de montagem teatral que a Margarida ministra, semestralmente, na Cia. de Arte. Como é de praxe, os espetáculos resultantes da oficina estreiam nos meses de julho e dezembro, respectivamente. Neste primeiro semestre, escrevi o texto Pão com linguiça, para o grupo de 22 atores dirigidos por Margarida. A história se passa na vila que dá nome à peça, onde um grupo de personagens vive, com dificuldades, o dia-a-dia. Após uma chuva forte, a casa de alguns personagens é ameaçada pelo deslizamento de um barranco, e eles têm que sair dali às pressas, abrigando-se na casa de Teresinha, a matriarca de uma outra família. A partir daí desenvolve-se a trama, calcada muito mais em acontecimentos cotidianos do que em uma dramaturgia cheia de peripécias. Vê-se em cena o desenrolar de algumas horas na vida de 22 seres humanos, claro que com muito humor, que é a minha maneira particular de ver o mundo. Sempre insiro o riso no que escrevo, e, quando possível, também nos personagens que represento. Acredito realmente que o riso tem um poder de chegar nos espectadores de forma mais doce, provocando reflexão, sim, mas menos agressivamente. Não que o humor não deva subverter a ordem, pelo contrário: o humor é subversivo por essência, como já mostrava Aristófanes. Mas o que quero dizer é que o riso conscientiza, quando quer, de um jeito menos panfletário. Digo tudo isso não porque Pão com linguiça queira conscientizar alguém de algo. Ainda assim, nas figuras que desfilam pelo espetáculo, que estreará em julho, pode-se reconhecer alguns tipos que povoam nossas ruas. E a propósito: fomos eu, Margarida e os atores da peça à Vila Chocolatão, caracterizados como os personagens, para tirar fotos de divulgação. Conhecemos a vila por dentro, guiados pelo seu Luís, uma espécie de líder comunitário do lugar. Fomos bem recebidos, mas não posso deixar de mencionar a impressão de miséria que me deixou essa visita. O lugar é muito precário, muito sujo, o lixo está por tudo, e isso me deixa pensando por que a prefeitura de Porto Alegre não dá um jeito. As crianças nos rodeavam, ávidas por contato, por um olhar. Sujas, mas com sorrisos ainda brancos. Rir disso é difícil.
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