Na foto acima, Margarida Leoni Peixoto e Rafael Ferrari, em cena de O banquete. Foto de Júlio Appel.
Aproveitando a pequena afirmação que dá título a este post, que encontrei no blog de um colega de teatro, quero falar sobre expectativas. O que são elas? São conceitos pré-estabelecidos em relação a determinado objeto, que nos fazem ansiar por vê-lo com nossos próprios olhos e produzir, finalmente, um conceito próprio. Ou: uma aposta que, muitas vezes, dada a imensa carga de informações ligada a determinado objeto, nos fazem usufrui-lo de maneira enviesada, ou seja, não isenta de preconceitos. Ou: espera ativa. Nos últimos dias, tenho tido a oportunidade de ler diferentes e incrivelmente conflituosas opiniões sobre o último projeto teatral de meu grande amigo e colega de teatro, Luciano Alabarse. E, podem acreditar, prezo a todas, independente de quão elogiosas ou não elas sejam. Opinião é algo que todos têm, em maior ou menor profundidade. Eu diria que até um cachorro vira-lata tem, se os cães fossem racionais. Mesmo assim, já vi cachorros que avançam em algumas pessoas, e em outras não, aparentemente sem um motivo muito claro. Será a tal da energia?
Agora, me perdoem a citação, que acredito ser necessária. Hans Robert Jauss, um teórico alemão que, principalmente nos anos 1970 trabalhou com a teoria da recepção a partir de Husserl, disseminou a expressão horizonte de expectativas. Quando temos contato com uma obra de arte, o nosso horizonte de expectativas é limitado pelo conhecimento prévio que temos sobre o tema e a forma dessa obra. A compreensão advinda dessa relação será diferente para cada pessoa, porque cada um de nós possui uma "bagagem cultural" diferente. Se, hipoteticamente, o flanelinha da sua rua ler Ulisses, de James Joyce, ele conseguirá apreender uma parcela bem pequena da complexidade que tem esse romance. Por outro lado, se alguém que se preparou com outras leituras para, aí então, chegar em Joyce, fruirá a obra e identificará um número muito maior de camadas de significado. Talvez o flanelinha se divirta com a "historinha" criada por Joyce, do perambular de Leopold Bloom pelas ruas de Dublin. Outro leitor, se deliciará com as citações e referências à cultura ocidental que encharcam as páginas de Ulisses.
Alabarse não é McG, porque Alabarse leu Platão em profundidade, e entregou um trabalho feito com todo o empenho artístico possível. McG não leu Platão (eu acho), mas viu com atenção O exterminador do futuro 1, 2 e 3, para entregar a sua requentada versão para o original do brilhante James Cameron, chamada de O exterminador do futuro- A salvação. Alabarse é um artista, McG é um operário da indústria do entretenimento. Alguns preferem uma obra de arte, outros preferem pipoca em película.
Agora, me perdoem a citação, que acredito ser necessária. Hans Robert Jauss, um teórico alemão que, principalmente nos anos 1970 trabalhou com a teoria da recepção a partir de Husserl, disseminou a expressão horizonte de expectativas. Quando temos contato com uma obra de arte, o nosso horizonte de expectativas é limitado pelo conhecimento prévio que temos sobre o tema e a forma dessa obra. A compreensão advinda dessa relação será diferente para cada pessoa, porque cada um de nós possui uma "bagagem cultural" diferente. Se, hipoteticamente, o flanelinha da sua rua ler Ulisses, de James Joyce, ele conseguirá apreender uma parcela bem pequena da complexidade que tem esse romance. Por outro lado, se alguém que se preparou com outras leituras para, aí então, chegar em Joyce, fruirá a obra e identificará um número muito maior de camadas de significado. Talvez o flanelinha se divirta com a "historinha" criada por Joyce, do perambular de Leopold Bloom pelas ruas de Dublin. Outro leitor, se deliciará com as citações e referências à cultura ocidental que encharcam as páginas de Ulisses.
Alabarse não é McG, porque Alabarse leu Platão em profundidade, e entregou um trabalho feito com todo o empenho artístico possível. McG não leu Platão (eu acho), mas viu com atenção O exterminador do futuro 1, 2 e 3, para entregar a sua requentada versão para o original do brilhante James Cameron, chamada de O exterminador do futuro- A salvação. Alabarse é um artista, McG é um operário da indústria do entretenimento. Alguns preferem uma obra de arte, outros preferem pipoca em película.
Oi, Marcelo!!
ResponderExcluirPor achar digna a troca de idéias, coisa que só acontece porque há idéias diferentes já que ninguém gostaria de trocar o que tem por algo que igual ao que se tem, resolvi vir comentar no teu blog, que leio sempre.
Concordo com quase tudo o que você escreveu. Tanto conheço a existência dessa tendência que levarmos para a platéia nossos pré-conceitos, que tento fugir disso. Para mim, foi exatamente o erro da Bárbara Heliodora ao analisar Clownssicos, tentando ver a distancia entre a peça e aquilo que ela esperava ver ao invés de da peça e daquilo a que o grupo se propôs. Felizmente, tenho mantido um grande esforço em olhar para os espetáculos e, após identificar a que veio a produção, tentar ver, com meus olhos, o quão próximo ou longe o resultado ficou.
Como já falei de Platão e continuo com as mesmas opiniões não vou repetir aqui. Mas acabo de me lembrar de que tem rolado uam forte impressão da minha parte pós publicação da minha crítica: existe sim um certo preconceito com relação ao Alabarse. De um lado, um grande grupo de artistas que simplesmente não gostam dele e não vão assistí-lo mas, mesmo assim, gostam de comentar as peças desse, como tu lembrou, artista. De outro, um grande número de pessoas que consideram o Luciano intocável, como se tudo o que ele fizesse estivesse acima de qualquer análise. Eu procuro me manter de fora. Fui assistir a Platão do mesmo jeito a que assisti Medéia. E vejo o Luciano com o mesmo respeito que vejo Paulo Guerra ou Luis Carlos Pretto.
E aí vem justamente o ponto em que discordo de você e, por te considerar um grande profissional que me enriquece com seu trabalho e também com suas opiniõs sobre o que faço, é que estou aqui: Não gosto, não quero, não vou e pretendo sempre fugir de algo que diferencia artisticamente Luciano Alabarse de Pedro Delgado, Exterminador do Futuro de qualquer um dos filmes do Dogma 95, Joyce de Chico Anysio, flanelinha de um professor de filosofia. Não consigo ver nenhum conceito realmente forte nessa divisão. Podemos começar um diálogo, mas socraticamene veríamos que, em seguida, o conceito se desfaz. Acreditar que um artista é melhor do que outro, que uma pessoa é mais artista do que outro só me leva a toda uma disputa de poder bem ao moldes do que Fucô tanto nos fala...
Claro que não me esqueço, nem poderia, que essas divisões existem. Não é atoa que o Alabarse consegue produzir os grandes elencos que tem, enquanto um quarto disso é sonho para outros diretores até mais velhos que o Luciano. Mas pergunto, se a sociedade, os patrocinadores, a mídia, as instituições fazem isso, precisamos nós, preciso eu também fazer?
Nisso tudo, fiquei me sentindo mais forte. Não ofendi, jamais fiz isso, nenhum ator, nenhum profissional em nenhum texto meu. Minha questão é com o trabalho, é com está em cena. E a cena é a mesma no São Pedro e na Companhia de Arte. Em contra partida, há dois comentários no meu blog que desrespeitam a minha pessoa e não o meu texto. Pobre deles que ainda não sabem ver as diversas camadas de significados que há ou que é possível haver em um discurso.
Um forte abraço a você e sua Margarida!
Putz! Causei uma polêmica que, de verdade, não queria. Sou o autor da frase em questão. Ela reflete o meu momento de desinteresse pelas artes cênicas em geral e não tem intenção de ofender, muito menos de desqualificar ninguém (como poderia?). Ando desinteressado por teatro desde que (vejam só) comecei a fazer mestrado em teatro! E, verdade pura, hoje prefiro ir ao cinema do que entrar em uma sala para assistir a um espetáculo teatral. Preciso (preciso?) me reapaixonar pelo teatro, mas não tenho encontrado força para isso... Assisti a todos os últimos espetáculos de Luciano Alabarse e, pessoalmente, embora reunam um excelente grupo de atores (tu incluso, Marcelo) acho-os (os espetáculos) entediantes. Como disse, eu não ando gostando de teatro. As críticas que o espetáculo tem recebido comprovam que a empreitada está sendo muito bem sucedida. Continuo sem interesse de ir assistir, mas desejo sempre boa sorte para os espetáculos produzidos no RS. Iria assistir ao Médico à Força novamente (assisti a estreia), Platão prefiro ler (sim, eu li A República). Te peço desculpas se meu comentário, de alguma maneira, te ofendeu. Não quero nem de longe algum atrito contigo. Admiro teu trabalho e te respeito muito como pessoa.
ResponderExcluirUm abraço.