Como muitos sabem, e alguns já sentiram na pele, a política do Facebook não permite o compartilhamento de fotos que sejam por eles consideradas "apelativas sexualmente" ou "imorais". Como o Tio Blogger é mais liberal, resolvi, num acesso de despudor, colocar aqui uma foto de cena em que apareço em nu frontal, clicada pela ótima fotógrafa Luciane Pires Ferreira. A Luciane foi ao Theatro São Pedro, durante nossa temporada de A VERTIGEM DOS ANIMAIS ANTES DO ABATE, e em meio a muitas lindas fotos, algumas delas registram um momento muito especial para mim, em minha carreira: minha estreia, depois de 21 anos de teatro, com um nu. Não é algo tão raro assim, convenhamos: o teatro é um local em que a nudez masculina é bem mais comum que o cinema, por exemplo. Quando cursava Jornalismo na PUCRS fui aluno do Tatata Pimentel na disciplina de Teoria da Comunicação, e uma coisa que ele sempre ressaltava era o horror causado pela visão de um pênis (muito mais agressivo que uma vagina: questão de visibilidade, já que o órgão reprodutor masculino é externo, e o feminino, interno). Tatata exemplificava essa interdição ao nu frontal masculino com imagens de campanhas da Benetton:
Aqui em Porto Alegre, por inúmeras vezes o nu esteve presente: nos espetáculos do Ói Nóis Aqui Traveiz, do Roberto Oliveira, do Teatro Sarcáustico...Neste ano assistimos também uma excelente montagem, Isso te interessa?, da Cia Brasileira de Teatro, em que os atores permaneciam o tempo todos nus, e não era nada nada apelativo, era lindo e totalmente conveniente à linguagem do espetáculo.
Então, eis aqui minha contribuição à desmistificação da nudez masculina em cena: interpretando o patriarca atormentado Nilos Lákmos de A vertigem dos animais antes do abate, chego a um ponto muito importante da minha vida no teatro: o que a língua inglesa conceitua como point of no return, aquele em que assumo publicamente, com a exposição máxima de meu corpo, minha devoção à minha arte. É provável que essa minha declaração de princípios e amor pelo teatro não soe tão importante assim para ninguém mais além de mim. É que o teatro, apesar de ser uma arte coletiva por definição, acontece primeiro dentro de cada um de nós, atores e atrizes, que nos entregamos, fisicamente e psiquicamente ao nosso ofício, na solitude de nossos corações e mentes. Para mim, esse momento é como a confirmação da crisma no ritual católico. Já que não tenho uma religião oficial, confirmo os votos da minha religião paralela: o Teatro.
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