Marcelo Ádams

Marcelo Ádams

domingo, 29 de abril de 2012

RockHamlet

Hamlet é o grande texto da cultura ocidental, só perde para a Bíblia em importância (Harry Potter não conta). Incontáveis montagens, versões e releituras depois, passando pelo cinema (o Hamlet de Laurence Olivier, de 1948, é o meu preferido) e ganhando os palcos periodicamente por todo o mundo (eu mesmo participei de uma montagem, em 2006, com direção de Luciano Alabarse, em que interpretava Laertes e o Ator-rei), chegamos à "canibalização" a cargo de Alexandre Dill, Jezebel de Carli e Tatiana Vinhais: RockHamlet.
Não é um espetáculo de teatro para se "entender a história". Quem foi assistir e nunca ouviu falar de Polônio, Gertrudes e Ofélia deve ter saído embananado, ainda que excitado com a sucessão de imagens dinâmicas, remetendo ao filmusical norte-americano e às óperas-rock como Tommy, The Rocky Horror Picture Show e congêneres. Fico até me perguntando se é mesmo um "espetáculo de teatro". Se não for, é algo parecido. O encadeamento de clássicos rockers, desde Queen até Led Zeppelin, entusiasma a plateia, que é ainda brindada com a entrega dos performers, que fazem de tudo para proporcionar um espetáculo estimulante.
Essa desconstrução de mitos é a marca do teatro que se faz hoje, e o trio de encenadores consegue usá-la muito bem. Há uma atmosfera de contemporaneidade que perpassa a cena, marcada até mesmo por recursos já um pouco desgastados pelo uso frequente, como as projeções (aqui, de versões cinematográficas de Hamlet e de um cortejo fúnebre, por exemplo). Me arrisco a escrever que pouco acrescentam, em RockHamlet, a não ser pela possibilidade de ampliar o espectro tecnológico (já são usados microfones em vários momentos, além daqueles que acompanham a banda ao vivo, que executa a trilha sonora). A força real da montagem é o trabalho humano, nas coreografias, nas canções, nas imagens que são construídas.
Ao final da apresentação, Jezebel esclareceu que o que vimos foi um "work in progress", uma "experimentação", conforme suas palavras. E que virão, na sequência, um PopHamlet e um SambaHamlet. Já é possível entrever que o caráter sombrio da peça de Shakespeare combina muito mais com a atual versão rock; e que, provavelmente, ao associar Hamlet ao samba, por exemplo, a paródia e o humor estarão ainda mais presentes do que nesta "Track 1".

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