Marcelo Ádams

Marcelo Ádams

sábado, 4 de agosto de 2012

Aconteceu perto da sua casa

A palavra inglesa mock, quando adjetivo, significa falso, imitado, simulado. Portanto, mockumentary é um documentário falso. E esse é o nome de um subgênero do cinema, o mockumentário. Já assistimos diversos excelentes filmes com essa premissa, como Um assaltante bem trapalhão (1969) e Zelig (1983), ambos de Woody Allen; e Borat (2006) e Brüno (2009), dirigidos por Larry Charles e estrelados por Sacha Baron Cohen. Isso sem contar a radiofonização de A guerra dos mundos, novela de ficção científica escrita por H. G. Wells, produzida por Orson Welles em 1938, que causou pânico nos EUA, provocando até mesmo suicídios. Um pouco diferentes do mockumentário, mas usando a mesma premissa de uma câmera gravando imagens com a ciência dos "atores", estão A bruxa de Blair (1999), REC (2007), Cloverfield: Monstro (2008), filmes de terror que usam o mesmo recurso de simulação da realidade através de uma câmera que pretensamente grava acontecimentos verdadeiros. E não se pode esquecer da franquia Atividade paranormal, que em seus (até agora) quatro filmes (2007, 2010, 2011 e 2012) usa e abusa da simulação.
Eu mesmo já atuei em um mockumentário (quando ouvi pela primeira vez essa expressão, apesar de já conhecer os filmes que faziam uso dessa forma): o curta metragem Rocco, dirigido por Filipe Matzenbacher. Rocco é a história do rock'n'roll, que no filme é tratado como um ser humano, e reconstituída sua trajetória através de depoimentos de pessoas que o conheceram desde seu nascimento (no sul dos EUA da primeira metade do século XX) até a decadência e aparente renascimento.
Toda essa introdução para falar de uma pequena joia chamada Aconteceu perto da sua casa (França, 1992), dirigida em trio por Rémy Belvaux, André Bonzel e Benoît Poelvoorde. O filme, que recebeu o Prêmio da Crítica Internacional no Festival de Cannes, acompanha uma equipe de documentaristas que registra as atrocidades de um serial killer, como assassinatos e ocultação de cadáveres. De início, os documentaristas registram tudo de forma distanciada (?), sendo, porém, aos poucos inseridos nas matanças, como quando estupram uma mulher em rodízio. Com tudo isso, o filme é uma comédia de humor nigérrimo (li que Quentin Tarantino adora o filme), e que ao mesmo tempo dá um tapa na nossa cara quando chama a atenção sobre a atuação e os limites da mídia. Não é uma discussão gasta, pelo contrário. Com o advento dos reality shows, que não existiam há 20 anos, quando o filme foi feito, a atuação da mídia, que dá corda para que subcelebridades se enforquem (lembrem da polêmica do programa Na moral, da Rede Globo, quando Pedro Cardoso rodou a baiana sobre esse assunto) está mais do que nunca em evidência.

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