Marcelo Ádams

Marcelo Ádams

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Os descendentes

Não lembro de um filme em que a atuação de George Clooney tenha me soado tão sincera. Clooney, que, além de ser um ator com uma empatia extraordinária com o público, é bonito, volta e meio é convocado a encarar uma espécie de nova versão de Cary Grant, uma das estrelas das primeiras décadas de Holllywood.
Cary Grant (1904-1986)

Aliás, Grant e Clooney são parecidos fisicamente, além de terem, em seus primeiros anos de carreira, construído personas cinematográficas semelhantes (Grant fez ainda alguns bons filmes com Hitchcock, como Ladrão de casaca (1955) e Intriga internacional (1959)). Clooney, porém, depois de seu boom como ator do elenco do seriado E/R (Plantão médico), foi para o cinema e passou a estrelar alguns filmes não descartáveis, comandados por diretores de gabarito, como Irresistível paixão, de Steven Soderbergh (1998), Além da linha vermelha, de Terrence Malick (1998), Três reis, de David O. Russell (1999), E aí, meu irmão, cadê você? (2000) e Queime depois de ler (2008), dos Irmãos Coen (2000), entre outros. Clooney estreou como cineasta no ótimo Confissões de uma mente perigosa, de 2002, seguido pelos também excelentes Boa noite e boa sorte, de 2005, e Tudo pelo poder, de 2011, o que demonstra que há vida inteligente debaixo daqueles fios grisalhos que enlouquecem as mulheres.
Bem, depois de ter recebido um Oscar de Melhor ator coadjuvante por Syriana- A indústria do petróleo (2005), e ter sido indicado ao Oscar de Melhor ator por Conduta de risco (2007) e Amor sem escalas (2009), este ano parece que George Clooney leva a sua estatueta como melhor "in a leading role" por Os descendentes, de Alexander Payne. O filme conta a história de Matt King após sua esposa ter entrado em coma devido a um acidente de barco. Com toda a expectativa que cerca acontecimentos desse tipo, o herói vivido por Clooney passa a tentar entender o distanciamento pelo qual sua relação com a mulher estava passando, ao mesmo tempo em que se aproxima, desajeitadamente, de suas duas filhas, anteriormente deixadas a cargo da esposa.
Clooney é a astro absoluto em torno do qual gravita o filme. Vê-se pouco daquele humor sofisticado que se passou a associar às suas personagens (como em Onze homens e um segredo e suas duas sequências, dirigidas pelo amigo Soderbergh). Matt King, sua personagem, vive no Havaí, se veste sem muito gosto, é atrapalhado e, ainda por cima, corno. Mas há muita sinceridade em sua atuação, e se ele levar o Oscar dessa vez, não será injusto (como foi, por exemplo, premiar a insossa Sandra Bullock como a Melhor atriz de 2009 por Um sonho possível: imperdoável). Clooney tem como principal concorrente o entusiasmante trabalho de Jean Dujardin em O artista. Mas acho que Clooney, figura querida de Hollywood, sairá consagrado no próximo domingo com sua estatueta.

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