Marcelo Ádams

Marcelo Ádams

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Melancolia

Lars von Trier é desses cineastas que podem ser chamados autorais: a cada filme que dirige, ele nos entrega obras inquietantes, não raro polêmicas, e que têm o poder de tocar profundamente os espectadores. Ele não é unanimidade, e é bom que não seja, pois assim, aparentemente, ele não se deixa levar pelos louros do sucesso. Seu último longa, Melancolia (2011) tem a capacidade de angustiar, poucas vezes vista com tanta intensidade no cinema. O tema, como tem se repetido em seus últimos filmes, é a morte: destino ao qual nenhum de nós escapará, mas que tentamos manter longe de nossas consciências e reflexões.
Um planeta chamado Melancolia está em rota de colisão com a Terra. Duas irmãs, Claire e Justine, aguardam o momento do choque, que poderá não acontecer, afinal. A espera pela resolução dessa dúvida é uma das principais linhas condutoras do filme. Kirsten Dunst recebeu a Palma de Ouro de Melhor Atriz em Cannes pelo papel de Justine, mas se o prêmio fosse para Charlotte Gainsbourg, que interpreta Claire, teria sido justo também. Aliás, Charlotte ganhou a mesma Palma de Ouro em 2009, pelo filme anterior de Von Trier, Anticristo. Von Trier mostra-se um excelente diretor de atrizes, já que a cantora Björk recebeu igualmente a Palma de Ouro de Melhor Atriz em 2000, por Dançando no escuro, ocasião em que o longa também recebeu o prêmio de Melhor Filme. Segundo o diretor, a ideia inicial era filmar uma adaptação da peça teatral As criadas, do dramaturgo francês Jean Genet (1910-1986), mas da história original só restou o nome de uma das irmãs, Claire, nome também de uma das personagens-irmãs da peça de Genet.
O filme Melancolia é uma pequena obra-prima, que usa muito sabiamente a trilha sonora, marcada quase que exclusivamente pelo Prelúdio da ópera Tristão e Isolda, do compositor alemão Richard Wagner, apresentada pela primeira vez em 1865. A ideia de leitmotiv (que em alemão tem o sentido de "fio condutor"), aplicada à música por Wagner, é a de eleger um trecho musical que será associado, diversas vezes durante a obra, à figura de uma personagem, ou a uma situação específica. Em Melancolia, Von Trier utiliza o prelúdio wagneriano para marcar o sentimento de apreensão e angústia pela ideia de fim do mundo: é arrebatador:



E por falar em obras-primas, não posso deixar de mencionar o cineasta do meu coração, Alfred Hitchcock. Um de seus colaboradores mais frequentes era o compositor Bernard Herrmann que fez a música de vários fimes de Hitchcock (Intriga internacional, Psicose, Marnie, confissões de uma ladra, O terceiro tiro). Entre esses filmes, está Um corpo que cai (1958), que tem uma de suas cenas mais marcantes conduzida ao som da célebre Scene d'amour, de Herrmann. Notem a semelhança entre a partitura de Herrmann e a música de Wagner:



Um comentário:

  1. adorei o post!
    melancholia nos tensiona dentro daquele sentimento de esperança angustiante, onde não sabemos mais se acreditamos em tudo ou se acreditamos apenas em nós mesmos.
    Extinto ou crença?
    Sai em outro estado e fiquei nele por uma semana.
    Quero ver de novo.

    ResponderExcluir