No ano passado, sugeri ao Breno Ketzer, Coordenador de Artes Cênicas de Porto Alegre, a realização de um evento que marcasse os 50 anos de nascimento de Vera Karam (1959-2003). Ele imediatamente topou a ideia e organizamos, junto com a Laura Backes e a Lurdes Eloy, o evento Vera Karam- Uma paixão no palco, em outubro de 2009. Leituras dramáticas, uma mesa de depoimentos sobre Vera e uma exposição com materiais diversos fizeram parte da justa homenagem à dramaturga, contista e tradutora pelotense que nos deixou tão cedo.
Meu primeiro contato com a obra de Vera Karam foi em 1994, quando da estreia do espetáculo Dona Otília lamenta muito, dirigido pelo Mauro Soares, com o próprio diretor, Nena Ainhoren, Cleiton Echeveste e Nadya Mendes no elenco. Nesse dia saí com um livro autografado por ela com o texto editado do espetáculo pelo IEL, que guardo até hoje com muito carinho. Vera venceu, anos depois, o Concurso de Dramaturgia Qorpo Santo, com o texto Ano novo, vida nova, que foi em montado em 2001 pelo Decio Antunes. Desta vez tive a oportunidade de atuar nesse que é a melhor peça da Vera, onde seus temas recorrentes estão expostos de forma mais bem articulada: o humor negro, o non sense, as relações familiares, o cotidiano medíocre e comezinho tranformado em comedia. Agora Gilberto Gawronski, que foi amigo pessoal da autora, nos traz esse seu Dona Otília e outras histórias, reunião de três esquetes (Dona Otília lamenta muito, A florista e o visitante e Dá licença, por favor?), costurados por mais um (Será que é o contrário a vida da atriz?).
Quem já leu a dramaturgia de Vera Karam sabe que ela não foi feita para concepções extravagantes, performáticas ou pós modernas. Vera trabalha com o realismo, entrecortado por ações e situações absurdas, e vinha daí o melhor de seu humor. Nesse sentido, Gawronski foi fiel à dramaturga, construindo um espetáculo simples, baseado no texto e no trabalho dos atores, que são o sustentáculo do bom teatro. Há, no entanto, em meio à simplicidade, escolhas estéticas definidas e que casam muito bem com o clima geral dos textos: algo assim como uma atmosfera de cabaré (alemão, por favor), um toque de Karl Valentin que se ajusta bem ao todo. O espetáculo, espertamente, vai melhorando progressivamente, e termina com uma cena hilariante (Dá licença, por favor?) protagonizada por Guida Vianna, que dá um banho de non sense e diz perfeitamente o engraçadíssimo texto de Vera. Um espetáculo, como se diz, de câmara, pequeno, e que poderia abrir mão do tom de voz excessivamente alto de alguns atores (exceção a Gawronski, que também atua, na medida). Um certo ar cafona dá uma cara popular ao espetáculo (que imagino ser proposital), e traz o público na palma da mão: os espectadores gargalhavam muito, se divertindo a valer. Mérito do texto, mas também dos atores (os já mencionados Guida e Gilberto, mais Letícia Isnard, com um bom timing cômico, e o menos eficiente Sávio Moll, excessivamente "duro" em alguns momentos).
Uma coisa deve ser destacada: a versatilidade de Gilberto Gawronski, que no mesmo festival apresenta duas encenações que diferem como água do vinho: Ato de comunhão, profundamente conceitual, e Dona Otília e outras histórias, profundamente popular. Por trás, dois excelentes textos. Gawronski sabe se cercar do que há de melhor, e isso certamente faz a diferença.
Gostarai de fazer uma promo/parceria com a peça. meu e-mial:betovarella2005@yahoo.com.br
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