Um espetáculo divertidíssimo, direto do Recife, PE, estado que está frequentemente na programação dos últimos Porto Alegre Em Cena, graças às constantes visitas que o coordenador-geral do festival, Luciano Alabarse, tem feito àquela cidade. No comentário que fiz ao espetáculo também recifense Carícias, escrevi que considero injusta a contrapartida que nós gaúchos recebemos, pois raramente somos convidados a nos apresentar por lá. Nós também gostamos de mostrar nosso trabalho, entenderam, curadores do Festival do Recife?
Voltando a Babau, é delicioso assistir a esse tipo de espetáculo, popular no sentido mais elevado da palavra. Os mamulengos (que vêm de mão molenga) são maliciosos, espertos, desenvoltos, e contam histórias universalmente compreendidas, ainda que povoadas de expressões nordestinas e referências à cultura brasileira. Babau apresenta uma bela cenografia, dividida em três empanadas, que contam histórias dentro de uma história, em uma feliz estrutura metalinguística. O trabalho de manipulação dos bonecos, que parece simples, é dinâmico e cheio de nuances cômicas. As vozes dos manipuladores, e o trabalho brilhante que fazem com o texto, é um espetáculo à parte. Como seria bom se a maioria dos atores de "carne e osso" trouxessem, para suas composições, a riqueza vocal que esses manipuladores nos apresentam.
As histórias secundárias contadas, de uma singeleza medieval, compõem o pano de fundo da história principal, que mostra as dificuldades que os mamulengueiros têm de ganhar o pão de cada dia, em uma arte pouco valorizada, apesar de riquíssima. Percebe-se aí que a história nos toca a todos, artistas, que sobrevivemos às vezes melhor, às vezes pior, mantendo sempre uma confiança inabalável de que as coisas vão melhorar. O final do espetáculo poeticamente nos mostra, através de um efeito de sombra chinesa, os manipuladores que dão vida aos mamulengos. Uma linda imagem, e que sintetiza belissimamente o tema principal.
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