Mario Vargas Llosa, escritor peruano consagrado, autor de ensaios, romances e até de algumas peças de teatro (A senhorita de Tacna, de 1981, é a mais conhecida), escreveu um texto intitulado É possível pensar o mundo moderno sem o romance?. De uma lucidez admirável, com argumentos imbatíveis sobre a necessidade da literatura dentro das sociedades modernas, idiotizadas pela TV e pela navegação internética, Llosa escreve com esse texto palavras que podem ser aplicadas ao teatro, com a mesma validade e contundência. Me permito, abaixo, reproduzir um trecho de seu texto, substituindo a palavra romance por teatro:
"O teatro não diz nada aos seres humanos satisfeitos com seu destino, de todo contentes com a vida do modo como a vivem. O teatro é alimento dos espíritos indóceis e propagador da inconformidade, um refúgio para quem tem muito ou muito pouco na vida, onde é possível não ser infeliz, não se sentir incompleto, não ser frustrado nas próprias aspirações. O teatro é um modo astuto que inventamos para nos mitigar a nós mesmos pelas ofensas e imposições desta vida injusta que nos obriga a ser sempre os mesmos enquanto gostaríamos de ser muitos, tantos quantos fossem necessários para satisfazer os desejos incandescentes de que somos possuídos.
Só momentaneamente é que o teatro aplaca essa insatisfação vital, mas, nesse intervalo milagroso, nessa suspensão temporária da vida em que a ilusão nos imerge - que parece nos arrancar da cronologia e da história e nos converter em cidadãos de uma pátria sem tempo, imortal - somos outros. Mais intensos, mais ricos, mais complexos, mais felizes, mais lúcidos do que na rotina forçada da nossa vida real.
O bom teatro é sempre - ainda que não proponha isso nem se dê conta disso - sedicioso, insubmisso, em revolta: um desafio ao que existe."
Muito legal esta troca de palavras. O texto ficou melhor do que eu imagino ser o original. E tambám, mais original.
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