A mulher que escreveu a Bíblia, espetáculo-solo adaptado do romance homônimo de Moacyr Scliar, foi dirigido pelo gaúcho Guilherme Piva. A atriz Inez Viana encarna aquela que teria sido a 700ª esposa do lendário rei Salomão, marcada por uma feiúra indescritível. Por esse motivo, foi designada pelo seu marido para escreveu um livro que relataria a história dos hebreus - a Bíblia. Com esse mote, a atriz nos apresenta um desempenho fantástico, com uma variedade imensa de recursos corporais e vocais, e um uso delicioso do humor para contar essa história. Inez Viana me lembrou, em muitos momentos, a nossa querida Deborah Finnochiaro, pela irreverência e despudor cênico. Na entrada do Teatro do SESC, onde o espetáculo se apresentou, um banner reproduzia a crítica de Macksen Luiz, cujo título era "O espetáculo vale pela atriz", e isso é absolutamente verdadeiro. É a atriz que dá vida, em todos os sentidos, à trama de Scliar. Sem desmerecer o restante dos elementos do espetáculo, é indiscutível que sem a protagonista adequada a peça não teria o mesmo sucesso e alcance. E isso acontece, guiado pela ótima adaptação para a cena a cargo de Thereza Falcão.
Ato, espetáculo pernambucano que utiliza a linguagem do clown, já não é tão feliz em sua resolução. Com influências e citações de Esperando Godot, de Samuel Beckett, além das tradicionais gags do gênero, a peça não me "pegou", talvez pela falta de uma dramaturgia mais consistente, talvez pela ingenuidade no tratamento do clown (e isso não é uma contradição, pois ingenuidade do clown não é sinônimo de simplismo). Os atores, alguns mais consistentes, outros nem tanto (especialmente aquele que passa o tempo todo no alto de uma escada), estão imbuídos de "vontade", mas isso não é o suficiente. Talvez o mais sentido seja a falta de uma direção mais segura, mais objetiva em sua "clownice".
Tenho assistido a vários espetáculos de clown, e na maioria das vezes eles não me pegam, e o mesmo aconteceu desta vez. Em maio deste ano os atores do Lume estiveram em Porto Alegre apresentando alguns espetáculos desse gênero, e aí sim pude me deleitar com o verdadeiro humor do palhaço. É uma técnica difícil, e por isso é tão bom quando se vê algo que se destaca desse mar.
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