Na foto acima, Jacobina Mentz Maurer e João Jorge Maurer, seu marido, protagonistas de um dos episódios mais sangrentos da história do Brasil. Em 2 de agosto de 1874, Jacobina e dezenas (centenas?) de colonos alemães foram chacinados pelas tropas do exército brasileiro, que vinham do Rio de Janeiro para acabar com o movimento messiânico, liderado por Jacobina. Jacobina considerava-se uma espécie de canal privilegiado entre Deus e os homens: através de sua boca (sim, fisicamente), o Senhor se expressava, orientando e pregando a palavra das sagradas escrituras. Esse agrupamento de crentes que se uniram à volta de Jacobina eram pejorativamente chamados de "Muckers" (falsos santos, na tradução do alemão), e passaram a provocar a ira da igreja católica e dos protestantes, religiões dominantes entre os colonos alemães. O que os padres e pastores alegavam é que os Muckers construíam uma espécie de mundo paralelo dentro da colônia, onde orgias sexuais e abandono de normas civilizadas seriam práticas comuns. Obviamente, o motivo para o queixume devia-se à cada vez mais minguada participação dos colonos nas religiões estabelecidas, já que grande parte deles passava a se devotar às palavras de Jacobina. Além de interesses econômicos bastante evidentes, por parte dos laicos, nas terras dos colonos "desvirtuados". Os Muckers, de acordo com alguns historiadores, constituíram a primeira aplicação prática das ideias comunistas, expressadas através de Marx e Engels em 1848 em seu Manifesto comunista. É claro que o movimento liderado por Jacobina não tinha consciência e nem intenção de submeter-se às ideias marxistas, mas, na prática, a divisão igualitária de responsabilidades e obrigações entre os membros da seita pode ser considerado com um pré-comunismo.
Hoje completam-se 136 anos da chacina dos Muckers. A literatura, o teatro e o cinema já se debruçaram sobre esssa fascinante história, que teve seu desenlace no morro Ferrabrás, na cidade de Taquara. Luiz Antônio de Assis Brasil escreveu o romance Videiras de cristal, no qual conta a trajetória de Jacobina em seus últimos meses. Ivo Bender também fez uso da trama, em 1874, um dos textos da Trilogia perversa, e que foi montada no ano 2000, com direção de Decio Antunes, em que tive o prazer de fazer parte do elenco (o espetáculo chamou-se As núpcias de Teodora-1874). O cineasta Fábio Barreto cometeu o horror chamado A paixão de Jacobina, baseado no romance de Assis Brasil, um dos filmes mais estúpidos do cinema brasileiro. Em 1978 foi filmado Os Mucker, produção brasileira com direção de Jorge Bodanzky e Wolf Gauer, que tinha a atriz gaúcha Marlise Saueressig como Jacobina (ela ganhou o Kikito de Melhor Atriz por esse filme). A tempo: Marlise foi uma das atrizes mais importantes do RS (foi, porque não atua há anos), e juntamente com Jairo de Andrade, com quem foi casada, foi a responsável pelo prestígio e desenvolvimento do Teatro de Arena de Porto Alegre, que Jairo fundou em 1967, no Centro da cidade.
Jacobina foi uma figura polêmica, e até hoje existem versões conflitantes a respeito do caráter e das intenções dela: anjo ou demônio?
Correção: não foi na cidade de Taquara, e, sim, Sapiranga.
ResponderExcluirComplementando a correção: o conflito ocorreu onde hoje é a cidade de Sapiranga, na época toda a região, inclusive Hamburgerberg e Novo Hamburgo, pertenciam a São Leopoldo. Essa versão das orgias sexuais e amor livre tem origem no primeiro livro escrito sobre o conflito. O livro OS Mucker do padre Ambrosio Schupp, um jesuita que chegou a região semanas após o massacre final e ouviu a versão dos vencedores porque os mucker estavam mortos, presos ou dispersos pelas matas. Décadas depois Leopoldo Petry, um professor, historiador e político da regiaõ - foi o primeiro prefeito eleito de Novo Hamburgo - escreveu O Episodio do Ferrabraz onde constesta, com fontes documentais, varias das afirmações do padre Schupp. Embora não poupe Jacobina e João Jorge Maurer faz uma analise consistente e muito simpática das razões dos colonos do Ferrabraz. Por sinal todos os mucker presos foram absolvidos e libertados, anos depois do conflito.
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