Vsevólod Meyerhold (1874-1940) completa 70 anos de morte em 2010. Ele foi um dos maiores revolucionários do teatro moderno (tanto por sua ligação com a revolução russa de 1917 quanto artisticamente). Foi assassinado a mando de Stálin, por razões políticas, e durante décadas foi esquecido. A partir dos anos 1950 houve uma recuperação de suas ideias teatrais, e percebeu-se a profunda compreensão do que é o teatro que Meyerhold defendia. Lutava por um teatro teatral, assim mesmo, redundante. Ainda que tenho trabalhado anos com Stanislavski, houve um momento em que as ideias desses dois grandes gênios da cena se separaram: Stanislavaski voltou-se para o naturalismo e o aprofundamento da relação entre a construção da cena e o método das ações psico-físicas executadas pelos atores. Meyerhold voltou-se para as influências do "teatro de feira", a commedia dell'arte, o teatro oriental, tudo aquilo que estilizasse a performance do ator; estava em busca de um ator-acrobata, mas que, paradoxalmente, não abandonasse o texto. Um ator que teria cuidados especiais com a palavra na cena. Vê-se que uma coisa não exclui a outra (o que por vezes lamentavelmente ainda se vê nas searas da antropologia teatral), e os caminhos de Stanislavski e Meyerhold andavam muito próximos, apesar das diferenças aparentes.
Tudo isso para dizer que estou lendo um livro chamado O teatro de Meyerhold (Civilização Brasileira, 1969), onde encontrei, na altura da página 197, o seguinte enunciado, de autoria do próprio: "A irritação do diretor paralisa imediatamente o ator, é tão inadmissível como o silêncio. Quem não for capaz de sentir o olhar inquieto do ator não é, na realidade, um diretor".
Perfeito e absolutamente correto. Em agosto, haverá uma série de atividades que lembrarão os 70 anos de morte de Meyerhold, e sua extraordinária contribuição para o teatro contemporâneo. Visite o blog e se informe: http://www.meyerhold70anos.blogspot.com/
Por uma feliz e estranha coincidência, nós da Cia. de Teatro ao Quadrado estamos estudando as ideias meyerholdianas para a encenação de A lição, que acontecerá em outubro no Teatro de Arena. Será uma excelente oportunidade para debater.
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