Marcelo Ádams

Marcelo Ádams

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O artista

Neste ano, dois longas produzidos em 2011 dividem as atenções dos cinefãs nas premiações do Oscar: O artista e A invenção de Hugo Cabret. O artista é um filme francês falando sobre os tempos áureos do cinema mudo nos Estados Unidos. A invenção de Hugo Cabret é um filme norte-americano falando sobre os primeiros tempos do cinema pioneiro de Georges Méliès, na França. Parece que Michel Hazanavicius e Martin Scorsese combinaram contar histórias do outro lado do Atlântico, e quem sai ganhando somos nós. Depois vou escrever sobre o favorito do Scorsese, porque agora a hora é de exaltar a pérola de Hazanavicius.
O artista é um filme mudo extemporâneo, e pode-se dizer o mesmo do fato de ser em preto e branco. Desde 1927, quando foi produzido o filme O cantor de jazz (dirigido por Alan Crosland), considerado o primeiro a ter falas e músicas sincronizadas (naquele tempo, gravavam-se as vozes dos atores e dos instrumentos em discos de acetato, que eram executados em cada cinema, em sincronia com as imagens da telona), a decadência do cinema mudo foi rápida e implacável. A novidade inundou os estúdios, e o povo não queria mais saber de filmes sem som (Cantando na chuva, de 1952, mostra essa transição à perfeição, além de ser talvez o maior filmusical de todos os tempos).
A produção francesa é ambientada na ainda Hollywoodland,
e traz a história da decadência do astro George Valentin (uma mistura de Rodolfo Valentino com Douglas Fairbanks, dois dos maiores astros que o cinema americano já produziu), interpretado por Jean Dujardin (que só não deverá levar o Oscar de Melhor ator porque George Clooney é da pesada). A queda de Valentin é mostrada paralelamente à ascensão da jovem atriz Peppy Miller (atuação cativante, e também indicada ao Oscar de Melhor atriz coadjuvante, de Bérénice Bejo). Enquanto ele se recusa a admitir que o cinema falado seria o futuro, Peppy Miller abraça o som e explode no gosto das audiências. A história é muito simples, quase plana, o que realmente vale é a recriação desse período ambientado entre 1927 e 1932. É perfeita. A fotografia em preto e branco (e em tons de sépia, ocasionalmente) reproduz com fidelidade enquadramentos e fontes de luz do cinema daqueles tempos. O grande trunfo, ao lado dessa brilhante reconstituição, é o trabalho dos atores (e do cachorro, que no filme não tem nome, mas que na vida real chama-se Uggie).
Para quem faz cinema, ou é artista, o filme é um mar de divertimento. É preciso sensibilidade, obviamente, para ver a beleza dessa singular pequena obra-prima, em tempos de Velozes e furiosos e Avatar.
Segue o clip da cena final do filme. Mais embaixo, a inspiração, do longa Ritmo louco, de 1936, com Fred Astaire e Ginger Rogers.

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