O cineasta norte-americano Terrence Malick (1943) dirigiu seu primeiro longa metragem em 1973 (Terra de ninguém). Cinzas no paraíso (1978), Além da linha vermelha (1998), O novo mundo (2005) e A árvore da vida (2011) completam sua filmografia: sim ele dirigiu apenas cinco filmes em quase 40 anos. Essa pequena mas importante produção demonstra que Malick não se deixa seduzir pelo sonho hollywoodiano, seus filmes são obras frequentemente enigmáticas (não no estilo David Lynch, fique claro), que talvez possam ser descritos como ensaios poético-visuais. Não há muito diálogo entre as personagens, mas narrações em off que dão conta muito mais de considerações filosóficas do que esclarecer o que se vê na tela. A última produção de Malick, A árvore da vida, recebeu a Palma de Ouro de Melhor Filme em Cannes, e tem no elenco os astros Brad Pitt e Sean Penn. Mas não espere um filme convencional, como os que Pitt e Penn fazem normalmente. A árvore da vida é um filme de imagens belíssimas, e com um andamento lento que incomoda algumas pessoas. Concordo que é preciso, de alguma forma, se identificar com a temática predominante do filme (a relação entre um pai e um filho pré-adolescente, no Texas dos anos 1950), ou se deixar encantar pela longa sequência em que é reproduzido o Big Bang, o evento que teria dado origem ao universo, e o processo de bilhões de anos que se seguiu, até o surgimento da vida na Terra (dinossauros, especialmente). Mas o longa de Malick é cinema puro, com tudo aquilo que é próprio da linguagem cinematográfica em sua exuberância: a montagem, a fotografia, o uso da trilha sonora, etc.
Marcelo Ádams
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Jânio Quadros solta a voz
A trilha sonora da LEGALIDADE- O MUSICAL foi composta por Hique Gomez: é fantástica. Há um momento em que minha personagem, o presidente Jânio Quadros, canta uma habanera, e a foto aí de cima do ensaio mostra a grandiloquência da cena. É claro que o Jânio tem um "que" de clown, e eu me aproveito disso, porque não sou bobo nem nada...
E esta aqui é passando um bom de um laquê no cabelo, para domar os cachos rebeldes!
Jânio Quadros e Che Guevara
LEGALIDADE- O MUSICAL será apresentado nos dias 3 e 4 de setembro, sábado e domingo, às 20 horas, em frente ao Palácio Piratini. A comemoração dos 50 anos do movimento da Legalidade, liderado pelo então governandor do RS, Leonel Brizola terá como principal atração esse grande espetáculo, que tem direção artística de Luciano Alabarse e direção musical de Hique Gomez. No elenco, quase 30 atores e uma equipe técnica gigantesca para preparar um evento inesquecível.
Na foto acima eu, Marcelo Adams, como Jânio Quadros, e o Marcello Crawshaw como Che Guevara, em foto de ensaio, no momento em que Jânio condecora o líder guerrilheiro, dias antes de renunciar ao mandato de Presidente da República, em 25 de agosto de 1961. Falta a caracterização, é claro, mas eu vou ficar a cara do Jânio, esperem!
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
Breves entrevistas com homens hediondos
O aclamado livro de David Foster Wallace já foi adaptado para o cinema em 2009 (http://www.imdb.com/title/tt0790627/) e, segundo alguns comentários que li, não foi muito bem sucedido. Um dos argumentos dessas críticas pouco favoráveis é a dificuldade que a adaptação de textos literários encontra na transposição para outra linguagem. Isso não é novidade: desde sempre soubemos que um romance ou conto quando transposto para uma linguagem eminentemente imagética como é o cinema tem que encontrar a maneira mais adequada de resumir/sintetizar/adaptar o gigantesco número de palavras que uma narrativa literária traz e transformá-las em movimentos sensoriais. E não basta apenas adaptar, é necessário eleger, frequentemente, uma abordagem das inúmeras que existem potencialmente. Em poucas palavras: não dá para colocar o livro inteiro no filme (ou no palco).
Meu amigo cineasta Fabiano de Souza já adaptou um romance de Dyonélio Machado (O louco do Cati) para o cinema, dando origem ao longa metragem A última estrada da praia. Leia o livro e veja o filme (que estreará no dia 16 de setembro no Cine Santander, em Porto Alegre, a propósito), e confira que do romance original de Dyonélio há bem pouco, muito pouco. E em minha opinião, isso não é algo para se contestar: duas linguagens distintas geram duas obras diversas.
Algo semelhante ocorre quando se adapta uma obra literária para o palco. Nos últimos anos, Porto Alegre viu algumas dessas experiências, como o excelente O sobrado, do Grupo Cerco, onde a transposição de Erico Veríssimo encontrou a atmosfera apropriada. E agora o Teatro Sarcáustico apresenta Breves entrevistas com homens hediondos, a partir do livro de contos de Wallace.
Minha relação com esse livro começou em 2005, quando a atriz Elisa Viali me entregou o volume de contos me dizendo "Tu vais adorar, acho que tem a tua cara e dá pra adaptar pro teatro". Levei o livro pra casa, li, mas não me entusiasmei muito, pois achei que era eminentemente narrativo, ou seja, não sugeria praticamente ações, limitando-se a alguns homens falando, contando, coisa excelente numa leitura, mas perigosa em um palco. Devolvi o livro pra Elisa e ficamos assim.
O Sarcáustico certamente enfrentou a mesma limitação narrativa, mas o que eles fizeram foi, de fato, apostar na força das palavras, das imagens criadas pelas palavras, muito mais do que naquelas construídas teatralmente. É claro que existem transições, costuras, e pontuações teatrais que povoam a encenação, mas desta vez o grupo investiu em outra forma. Conseguem dar dinâmica, beleza e contundência às palavras de Wallace. Se em Wonderland a espetacularização era quase carnavalesca, até pelo espaço cênico estilo passarela, em Breves entrevistas... o espaço mínimo do Teatro de Arena induz à introspecção, à contenção. Em Wonderland havia o brilho cegante da luz, em Breves entrevistas..., a sombra.
Em um espetáculo de 2 horas de duração, é difícil manter o alto nível de interesse, e isso acontece no novo espetáculo. Há momentos de baixa, que felizmente é logo superada pela qualidade e entrega dos atores, e através das soluções simples mas eficientes. Se fosse colocar em apenas uma frase, diria que o Sarcáustico é um grupo que não tem medo de errar, é um coletivo de jovens com ideias interessantes sobre teatro, e que parecem saber colocar esse mundo caótico em que vivemos sobre o palco.
É claro que Daniel Colin tem muita responsabilidade sobre o que se viu, sendo ele uma espécie de agregador talentoso, com uma vasta cultura pop (principalmente) e muito antenado ao mundo contemporâneo. Mas a cena emblemática da encenação, em minha opinião, é a primeira, de Johnny Bracinho, interpretada por Rossendo Rodrigues sob a direção de Daniel. Não por ser apenas chocante em sua sinceridade e ironia, mas pelo trabalho de Rossendo, que realmente dá um show. Ricardo Zigomático e Guadalupe Casal completam o elenco, com trabalhos igualmente intensos e de entrega inequívoca. (Atenção para o Ricardo, muito promissor como encenador).
O jorro de palavras que se vê sobre o palco confirma aquilo que alguns insistem em negar: que dizer bem um texto é indispensável; e que ação física não é apenas acrobacia e marcações dinâmicas, mas falar, também. E o Teatro Sarcáustico confirma sua posição como um dos grupos mais importantes de Porto Alegre.
terça-feira, 23 de agosto de 2011
LEGALIDADE- O MUSICAL é adiado para os dias 3 e 4 de setembro
Em função da chuva que não tem dado trégua, o mega-espetáculo LEGALIDADE- O MUSICAL, que comemora os 50 anos de um dos mais importantes eventos políticos do Brasil do século XX, teve suas apresentações em frente ao Palácio Piratini adiadas para a semana seguinte, dias 3 e 4 de setembro, às 20 horas.
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Vagas para a UERGS: Teatro, Dança, Artes Visuais e Música
Quem estiver interessado em estudar na UERGS, estão abertas as inscrições para Ingresso Extra-Vestibular. São vagas nos cursos de LICENCIATURA em TEATRO, DANÇA, ARTES VISUAIS e MÚSICA, ministrados na cidade de Montenegro, a 70 km de Porto Alegre.
O lnk para maiores informações é:
Tartufo
Tartufo é das comédias mais conhecidas de Molière, um dos maiores dramaturgos da história, e que encontrou o seu meio de expressão ideal não nos dogmas classicistas do período barroco francês (de autores como Racine e Corneille), mas na comédia de orientação muitas vezes farsesca (O médico à força, As artimanhas de Scapino). Ao lado dessas comédias mais físicas, que se impõem pela rocambolização do enredo (e com inspiração mais evidente no "teatro puro" da Commedia dell'arte), Molière escreveu comédias de caracteres (O avarento, O doente imaginário) e comédias de crítica de costumes (O burguês fidalgo, As preciosas ridículas). Esses exemplos não esgotam a volumosa produção de Molière, que ainda escreveu comédias pouco cômicas, como O misantropo, comédias-bailado, etc. Até tragédias o francês se atreveu a escrever, com esperado fracasso.
Sendo uma sátira à religião, Tartufo coloca em questão a aparentemente inexplicável ingenuidade a que são levados os "crentes", certos de que o reino dos céus estará aberto a eles, em medida proporcional à quantidade de dinheiro que doam como dízimo. Há, evidentemente, momentos altamente cômicos, mas que fogem à farsa pura que Molière utilizou em vários momentos em outras peças. Em determinadas cenas do Tartufo, Poquelin mostra todo seu pendor para as situações mais desatinadas, típicas da farsa, mas de forma nenhuma pode-se dizer que a peça seja uma farsa.
O Grupo Farsa, que no programa da peça escreve ser "um dos poucos grupos do país a se dedicar ao estudo e apresentação da farsa", coloca em cena pela segunda vez um texto de Molière (da primeira vez, em 2009, foi O avarento), e novamente elege como dramaturgia não uma farsa, mas uma comédia de caracteres. Isso não é uma crítica, apenas uma constatação e uma "alforria" para o grupo: por se chamar Farsa, o grupo não precisa montar apenas farsas para ser coerente. Um nome é apenas um nome, e há muita dramaturgia boa por aí, inclusive comédias, que prescindem do rótulo "farsa" para serem engraçadas.
Bem, dito isso, é preciso também acrescentar que um espetáculo não é apenas um texto encenado. É possível construir uma farsa com um texto que não o seja. E o caminho do grupo dirigido por Gilberto Fonseca vai um pouco por aí. O texto em si do Tartufo não se encaixa no gênero farsa, e até não é engraçado em vários momentos, mas conforme sua encenação, essa característica se acentua: a postura de alguns dos atores, como Marcos Chaves e Tefa Polidoro remetem à estilização de inspiração italiana. Até mesmo as irreverentes quebras metalinguísticas que ocorrem durante a peça poderiam dar um outro sentido à palavra farsa: "somos atores que fingem ser algo que não são; somos farsantes e escancaramos isso para vocês, algumas vezes".
A encenação do Grupo Farsa é curta, levando em consideração a extensão do texto original de Molière: cerca de 1 hora. O texto na íntegra certamente não levaria menos de 2 horas para ser levado à cena. Ou seja, muitos e profundos cortes foram feitos no texto de cinco atos. Personagens importantes não foram cortadas, apenas uma criadinha, Flipotte, que em nada acrescenta à trama. O que acontece sim é a aceleração do desenvolvimento da ação, que se dá de forma velocíssima, já que as chamadas "gorduras" do texto original foram lipo-aspiradas até o osso, deixando-se nas mãos da trilha sonora algumas informações que originalmente se davam através de longas falas. Esse expediente já fôra usado com sucesso em O avarento, e retorna aqui com semelhante eficácia. Digo "semelhante" porque nem todas as intervenções musicais parecem 100% resolvidas narrativamente.
Há coerência na encenação em não tornar o que se vê tão cômico quanto em O avarento. Isso porque Tartufo é um texto mais sombrio, que fala de coisas mais sérias. Nesse sentido, a opção por cores como o preto e o branco nos figurinos e a sobriedade da cenografia (apenas uma mesa e duas cadeiras, que entram em momentos breves e bastante específicos) demonstra que o Grupo Farsa está se "transformando": deixando de ser apenas um coletivo que monta farsas. Talvez seja precipitado de minha parte afirmar isso: veremos na anunciada montagem de O doente imaginário para onde vai a inspiração do grupo. Se em direção à comédia à italiana (que dava mais as caras em O avarento) ou ao quase naturalismo de algumas composições de ator em Tartufo (Carlos Azevedo, Lúcia Bendati e Vinícius Meneguzzi).
terça-feira, 9 de agosto de 2011
Melancolia
Lars von Trier é desses cineastas que podem ser chamados autorais: a cada filme que dirige, ele nos entrega obras inquietantes, não raro polêmicas, e que têm o poder de tocar profundamente os espectadores. Ele não é unanimidade, e é bom que não seja, pois assim, aparentemente, ele não se deixa levar pelos louros do sucesso. Seu último longa, Melancolia (2011) tem a capacidade de angustiar, poucas vezes vista com tanta intensidade no cinema. O tema, como tem se repetido em seus últimos filmes, é a morte: destino ao qual nenhum de nós escapará, mas que tentamos manter longe de nossas consciências e reflexões.
Um planeta chamado Melancolia está em rota de colisão com a Terra. Duas irmãs, Claire e Justine, aguardam o momento do choque, que poderá não acontecer, afinal. A espera pela resolução dessa dúvida é uma das principais linhas condutoras do filme. Kirsten Dunst recebeu a Palma de Ouro de Melhor Atriz em Cannes pelo papel de Justine, mas se o prêmio fosse para Charlotte Gainsbourg, que interpreta Claire, teria sido justo também. Aliás, Charlotte ganhou a mesma Palma de Ouro em 2009, pelo filme anterior de Von Trier, Anticristo. Von Trier mostra-se um excelente diretor de atrizes, já que a cantora Björk recebeu igualmente a Palma de Ouro de Melhor Atriz em 2000, por Dançando no escuro, ocasião em que o longa também recebeu o prêmio de Melhor Filme. Segundo o diretor, a ideia inicial era filmar uma adaptação da peça teatral As criadas, do dramaturgo francês Jean Genet (1910-1986), mas da história original só restou o nome de uma das irmãs, Claire, nome também de uma das personagens-irmãs da peça de Genet.
O filme Melancolia é uma pequena obra-prima, que usa muito sabiamente a trilha sonora, marcada quase que exclusivamente pelo Prelúdio da ópera Tristão e Isolda, do compositor alemão Richard Wagner, apresentada pela primeira vez em 1865. A ideia de leitmotiv (que em alemão tem o sentido de "fio condutor"), aplicada à música por Wagner, é a de eleger um trecho musical que será associado, diversas vezes durante a obra, à figura de uma personagem, ou a uma situação específica. Em Melancolia, Von Trier utiliza o prelúdio wagneriano para marcar o sentimento de apreensão e angústia pela ideia de fim do mundo: é arrebatador:
E por falar em obras-primas, não posso deixar de mencionar o cineasta do meu coração, Alfred Hitchcock. Um de seus colaboradores mais frequentes era o compositor Bernard Herrmann que fez a música de vários fimes de Hitchcock (Intriga internacional, Psicose, Marnie, confissões de uma ladra, O terceiro tiro). Entre esses filmes, está Um corpo que cai (1958), que tem uma de suas cenas mais marcantes conduzida ao som da célebre Scene d'amour, de Herrmann. Notem a semelhança entre a partitura de Herrmann e a música de Wagner:
domingo, 7 de agosto de 2011
Cabaré do Ivo
O espetáculo Cabaré do Ivo fará uma única apresentação na próxima quarta-feira. A obra do maior dramaturgo gaúcho em fragmentos de sete de suas peças. Um espetáculo irreverente e altamente teatral.
Pausa em Montenegro
Ontem ministrei a aula final do semestre 2011/1 na graduação em Teatro: Licenciatura da UERGS: a disciplina História do espetáculo teatral I. Agora, um recesso de apenas uma semana e já iniciarão as aulas do segundo semestre, no dia 15 de agosto.
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
Uma longa estrada para A ÚLTIMA ESTRADA DA PRAIA
Mais notícias sobre o longa metragem A ÚLTIMA ESTRADA DA PRAIA, produção gaúcha dirigida por Fabiano de Souza, com os quatro atores da foto aí de cima como protagonistas: Marcelo Adams, Miriã Possani, Marcos Contreras e Rafael Sieg.
Depois de receber o prêmio de Melhor Direção no 1º Festival Lume de Cinema, em São Luís do Maranhão, o filme tem a sua participação confirmada em vários outros eventos pelo Brasil e pelo mundo:
* 40˚ Festival du Nouveau Cinéma, em Montreal, Canadá (de 12 a 23 de outubro)
* 4˚ Festival de Triunfo, em Pernambuco (de 15 a 20 de agosto)
* Mostra Deslocamentos e Caronas, do Itaú Cultural: dia 24 de agosto em Belo Horizonte (Palácio das Artes) e no dia 25 em Curitiba (Sesc Paço da Liberdade) http://www.itaucultural.org.br/
E, o melhor de tudo, o filme vai finalmente estrear comercialmente nos cinemas de Porto Alegre!
A partir do dia 16 de setembro, no Cine Santander, Centro de Porto Alegre, o público vai poder assistir a essa história que começou em 2007, com as filmagens no litoral gaúcho.
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
Um doce olhar
Filme para se recomendar: Um doce olhar (a tradução brasileira para o título que originalmente significa "mel"). A produção é da Turquia (uma cinematografia que raramente chega até nós), foi dirigida por Semih Kaplanoglu, e recebeu o Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim 2010.
Um doce olhar se insere naquela longa tradição de filmes que abordam o mundo a partir do olhar da criança. Muitas vezes esse olhar ingênuo/perplexo nos deu grandes obras, como A fita branca (2009), Ninguém pode saber (2004), Kolya, uma lição de amor (1996), Léolo (1992), Adeus, meninos (1987), Fanny e Alexander (1982), ET, o extraterrestre (1982) e Pixote, a lei do mais fraco (1980). Há muitos outros; pelo jeito os roteiristas e cineastas têm um carinho especial pela infância.
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