Achou redundantes as frases acima? É proposital. Hohlfeldt, que foi meu professor em duas universidades diferentes (fui aluno dele no curso de Jornalismo da PUCRS e no curso de Artes Cênicas da UFRGS) é um grande amante do teatro, no sentido mais generoso possível. Porém suas críticas optam por focar muito mais nos aspectos dramatúrgicos que espetaculares, e é aí que reside a deficiência, em minha opinião. Porque falar da dramaturgia de uma peça ele faz com muita propriedade, mas fico sempre esperando uma linha a mais sobre a estética das peças, sobre os elementos que compõem o espetáculo, que são, em última análise, aqueles que fazem de uma peça no papel um espetáculo: teatro.
Dito tudo isso, e reafirmando minha admiração por esse Quixote local, reproduzo a crítica dele de Mães & Sogras:
Estreia a ser valorizada
É gratificante e de enorme responsabilidade se poder registrar um novo talento e poder avaliar o que ele apresenta. É o caso da peça Mães & sogras, de Leandro Sarmatz, na direção de Marcelo Adams. Alegadamente, Sarmatz retoma a tradição da comédia de humor negro ídiche. Explora a “figura folclórica”, como menciona Moacyr Scliar, da “mama” judia, num texto que, como não o li no original, fico sem saber como classificar: se, de fato, se trata de uma comédia ou se, na verdade, é um drama que quase chega à tragédia. A opção do diretor segue duas direções, e por isso mesmo denomina-se como tragicomédia, ao que acrescenta o adjetivo “musical”, o que não me parece correto, pois se trata de quatro canções que marcam determinados momentos do espetáculo, mas não o transforma exatamente num musical. Diga-se de passagem que as composições de Rafael Ferrari, com letras do próprio Marcelo Adams, são muito interessantes, musicalmente falando, em especial A outra, que é bem concebida e tocante, no que expressa.
O espetáculo está claramente dividido em três partes, como uma espécie de tese. Na primeira, a mais longa, de cerca de uma hora de duração, assistimos a um longo, e às vezes, monótono diálogo entre duas amigas, Bella e Anita. Ambas judias, ambas mães. Margarida Leoni Peixoto incorpora Bella que, apesar do nome, é uma verdadeira déspota, seja com o marido, já falecido, seja com o filho, que ousou desafiá-la ao casar com uma jovem não judia. Anita é mais comedida, vivida por Naiara Harry; é hilária pelas observações que faz, ao mesmo tempo em que demonstra certa maldade para com a amiga, ao mencionar constantemente o filho distante de Bella, a quem esta teima em idealizar. Neste longo diálogo, temos dois movimentos: as referências em flash-back, que nos informam sobre as personagens e o presente, que será então desdobrado ao longo do espetáculo; e a exploração de lugares-comuns da cultura judaica, especialmente a fixação nas doenças. A coleção de mortos que desfia no diálogo das duas mulheres vai-se tornando engraçada, na medida em que ambas se comprazem com tais situações.
No segundo momento, apresentam-se flashes que ilustram valores e (pré)conceitos das duas mulheres. Num deles, prepara-se o terceiro momento: fica-se sabendo que o filho de Bella vai voltar do exterior. Casado, com uma filhinha pequena, ele jamais escreveu ou respondeu cartas da mãe, depois que esta se recusou a ir ao casamento do filho ou ver fotografias da neta.
O terceiro momento é um corte radical. Na clínica de saúde a que Bella acompanha Anita, encontra uma jovem também à morte. Descobre-se que a mulher é a nora de Bella, que logo a identifica. A jovem refere a sogra como uma víbora e narra a exigência de Bella em não receber a neta. Um corte de cena e temos Bella, sozinha com uma empregada que a acompanha depois de alguns anos, mas, grávida, está prestes a deixá-la. Bella está absolutamente louca. Um ano depois de retornado, o filho ainda não a visitou nem deu sinal de vida. Fiquei a me interrogar como o dramaturgo ia resolver a situação. Ele se sai bem, optando pela fantasia, num final de espetáculo valorizado pelo diretor. Margarida Leoni Peixoto e Naiara Harry estão estupendas e emocionantes, superando-se em cena. Carla Gasperin, como a jovem doente, Cláudia Lewis, como a empregada, e Rafael Ferrari, já mencionado, completam o elenco. Cada um desdobra sua tarefa a contento.
Leandro Sarmatz faz uma estreia mostrando que tem o que dizer. O texto não é perfeito. Acho que precisa ser reduzido e suas partes devem ser melhor cozidas. Ou seja, o dramaturgo precisará reescrever seu texto. Mas o tema e o foco estão perfeitos. A direção de Marcelo Adams fez uma opção que não posso julgar, por desconhecer o texto original. Mas fica evidente que ele se preocupou em preencher cenicamente os vazios do texto, de modo a dar movimento para o espetáculo. Seu maior mérito foi, claro, a direção de atores, precisa. Mas a concepção do espetáculo alcançou vitalidade no texto, colocando um espetáculo em pé, que se afirma sobretudo em seu final. Sem ser perfeito, eis aí um trabalho a ser respeitado e valorizado, mostrando seriedade e profissionalismo que muito nos alegra.
Olá Marcelo, gostaria de saber de quem são os créditos desta foto do Antonio Hohlfeldt.
ResponderExcluirEm que ocasião foi tirada?
Obrigada
Luisa
favor responder para
lule_schumacher@hotmail.com
Trabalho PUCRS