Marcelo Ádams

Marcelo Ádams

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Leni Riefenstahl e Marlene Dietrich


Nas duas imagens acima, primeiro Leni Riefenstahl (1902-2003), já longe do período em que trabalhou para o Reich alemão, e se tornou a cineasta preferida de Adolf Hitler. Em seguida, Marlene Dietrich (1901-1992), no auge de sua carreira, iniciada na Alemanha e depois ainda mais alavancada pela máquina hollywoodiana de fazer estrelas. Em comum, afora o fato de serem alemãs, e terem vivido o mesmo período histórico, eram mulheres de força e talento extraodinários.
Leni foi, sem dúvida, uma das criadoras da linguagem do documentário, em filmes como Olimpia e O triunfo da vontade. Olimpia, rodado em 1938, durante as Olimpíadas de Berlim, mostrava os atletas como semideuses em sua força e vigor físicos. A riqueza de enquadramentos e a genialidade da montagem deu a esse filme uma aura imortal, referência indiscutível na captação de imagens de esportes. O triunfo da vontade, de 1935, mostrava uma convenção do Partido Nazista alemão, e os bastidores desse grande evento, em que Hitler brilhava com toda sua força e presença de palco. O filme foi feito como um panfleto de propaganda, exaltando a superioridade do ariano. As imagens dos soldados alemães perfilados em frente a um Hitler embevecido são clássicas, e mostram o que seria o Império Romano em seu tempo.
Marlene Dietrich iniciou sua carreira na Alemanha e depois foi cooptada por Hollywood, onde trabalhou com os maiores cineastas da época, como William Dieterle, Billy Wilder, Alfred Hitchcock e Orson Welles. Seu parceiro mais constante, no entanto, foi o compatriota Josef von Sternberg, com quem fez alguns de seus filmes mais conhecidos, ainda nos anos 1930, como O anjo azul e Marrocos.
Essas duas personagens que fizeram a história do cinema foram reunidas pela dramaturga também alemã Thea Dorn, em um encontro fictício acontecido em Paris, em 1992. O espetáculo MarLeni, dirigido por Liliana Sulzbach e Márcia do Canto, coloca Araci Esteves como Marlene e Ida Celina como Leni. A maior qualidade do espetáculo é o cuidado da produção, com cenografia, figurinos, iluminação e trilha sonora totalmente adequados e bem produzidos. O trabalho das duas atrizes, sem dúvida, é merecedor de destaque. Araci Esteves, que já havia me deixado estupefato com sua interpretação hipnótica da Boca de Eu não, a peça de Samuel Beckett dirigida em 2004 por Luciano Alabarse e Luiz Paulo Vasconcellos em Beckett na veia, constrói uma Dietrich com um pé na bagaceirice que fica muito interessante. Ida, com quem já trabalhei em algumas ocasiões, realiza em minha opinião seu melhor trabalho nos últimos tempos, com uma Riefenstahl contida e dura, porém com laivos de doçura que a deixam muito humanizada.
Talvez o que menos tenha me "pescado" seja o próprio texto, a situação proposta por Thea Dorn, que não sugere nenhum embate mais desenvolvido entre as personagens, o que deixa o texto muitas vezes linear. É claro que o trabalho da direção poderia ter investido em algo diferente, mas o que se vê é uma escolha de deixar-se conduzir pela dramaturgia. Eu, como admirador e pesquisador da boa dramaturgia, não posso menosprezar essa opção. Porém, me parece que o espetáculo se torna um pouco cansativo em alguns momentos.
Fiquei feliz em ver um espetáculo teatral dessa categoria em Porto Alegre, com uma ambição maior do que se vê muitas vezes em nossos palcos. Há, sim, espaço para todos os tipos de teatro, e que cada um encontre a sua maneira de expressar sua arte.

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