Quando vou assistir a um espetáculo teatral - uma das coisas que mais me dá prazer -, procuro deixar o máximo de pré-concepções de lado a partir do momento em que começa a função. Seria falso afirmar que nos colocamos 100% "inocentes" a cada nova experiência: isso não acontece com ninguém, a não ser com recém nascidos (que, obviamente, não têm o discernimento necessário para apreciar arte). É claro que minha formação específica na área do Teatro, e a minha experiência como artista, já há 20 anos, me fazem ter opiniões, ideias sobre as artes cênicas (são essas ideias que me movem como artista), e que não podem desaparecer assim, num passe de mágica. Mas o simples fato de olhar para a história do teatro como expressão com um fim espetacular me recorda que as mudanças de forma (e conteúdo) são incontáveis desde o século V a.C., quando os nossos velhos amigos gregos criaram o conceito de teatro que até hoje seguimos. Acredito também que a minha visão aberta se dá pelo fato de eu ser professor, e entender as dificuldades, as peculiaridades, as escolhas de cada artista do palco.
Recentemente assisti a um espetáculo teatral, em Porto Alegre, que não me agradou como experiência pessoal, mas no qual reconheço todo o valor do trabalho desenvolvido. Inclusive recomendo o espetáculo aos meus amigos, para que vejam a seriedade e o engajamento com uma proposta cênica (o que, em minha opinião, é uma boa maneira de fazer bom teatro: acreditar na relevância e na qualidade do que se faz).
No entanto, essa minha postura de olhar com carinho para o trabalho dos meus colegas não se reproduz com tanta frequência: o mais fácil, parece, é desmerecer, desqualificar o teatro que os outros fazem. Como se só alguns poucos gênios tivessem a fórmula mágica do bom teatro, como se só o que esses poucos gênios fazem fosse relevante.
Não tenho paciência nem respeito por quem tenta se destacar através da depreciação do trabalho do outro. E vejo, infelizmente, em muitos jovens artistas que estão chegando agora ao teatro, essa postura desrespeitosa e arrogante. Que fique claro: alguns velhos dinossauros do nosso teatro também agem assim. Mas o que me entristece é ver que os jovens artistas não surfam na onda da tolerância, da comunhão e da solidariedade pela nossa arte.